África berço da humanidade e da civilização.

ÁFRICA

É o continente mais pobre do mundo. Em média, um africano vive com menos de dois dólares por dia. No que se refere à concentração de renda, estima-se que existem quase 800 milhões de africanos vivendo com menos de um dólar por dia. Apesar disso, há países e regiões prósperos. A África do Sul, por exemplo, produz sozinha um quinto das riquezas do continente, graças à exportação de ouro, minério de ferro, diamante e carvão, além de maciços investimentos em seu parque industrial. Líbia, Argélia e Egito estão entre os países que se destacam pela exploração de petróleo e gás natural, produtos cuja cotação interfere em toda a cadeia produtiva do planeta. Eles estão ao norte da árida região do Saara, o maior deserto do mundo. Com temperaturas superiores a 40ºC, ele representa um terço de todo o território africano. Curiosamente, uma das faixas de terra mais férteis do globo fica nessa área, ao longo das margens do rio Nilo.

África Negra
Abaixo, rumo ao sul, está a África Subsaariana, também chamada de África Negra, palco de guerras civis e conflitos etno-religiosos. A maior parte deve-se ao processo de descolonização do continente, entre as décadas de 50 e 70. A África, explorada e dividida entre nações européias, serviu de apoio ao desenvolvimento econômico de nações ricas, como França, Itália, Alemanha e Reino Unido. Com a saída desses países do território africano, foram traçadas novas fronteiras políticas. O problema é que não foram respeitadas as divisões étnicas, religiosas e lingüísticas que existiam anteriormente. Desde então, cerca de 20 nações já entraram em guerra. As disputas envolvem não apenas divergências filosóficas ou religiosas, mas também econômicas. As reservas de minérios, que poderiam impulsionar o desenvolvimento, também são objeto de disputas. Resultado: a economia da região ainda apresenta o mesmo desempenho da década de 60.
Fonte: Almanaque Abril

O preconceito da África sem História
De há muito tempo o continente africano é apresentado pela imprensa mundial como sendo a área do planeta onde predominam a fome, as guerras, as epidemias, os extermínios em massa, etc. Em suma, é o lugar mundial da pobreza e da morte. A causa dessas calamidades são apresentadas como sendo inerentes aos povos africanos, isto é, por estarem ainda no estágio tribal de desenvolvimento, não conseguem viver "civilizadamente". Neste sentido, tudo não passa de um processo de auto-extinção dos próprios africanos. Todos os conflitos neste continente são colocados como sendo de caráter étnico ou tratados como meras guerras tribais.
Estas concepções tentam encobertar as verdadeiras razões atuais que provocam estas situações, como também descartam a realidade histórica da África. Normalmente, quando se fala em História da África pensa-se no tráfico de escravos, dando uma falsa imagem de que os africanos só viveram esta realidade. Por conta disto, levantar algumas questões a respeito do desenvolvimento histórico dos africanos torna-se fundamental, tanto para entender seu momento atual como para romper com preconceitos já estabelecidos de que na África não houve História antes da presença européia, mais claramente, a partir da expansão portuguesa pelo litoral africano no século XV.

O papel de vanguarda tecnológica da África
Existe um certo mal-estar no campo da ciência em admitir o fato de que o ser humano e seus antepassados se originaram na África. Sabe-se hoje que a humanidade teve seu início neste continente; portanto, foi aí onde as grandes transformações - que geraram o ser humano atual - se fizeram pela primeira vez. Do mesmo modo, as principais descobertas tecnológicas realizadas nos princípios da humanidade são originárias da África - fogo, instrumentos de matérias variados tais como pedras, ossos, madeiras, etc. - descobertas e invenções que possibilitaram a expansão dessa espécie pelo planeta e garantiram sua sobrevivência, apesar das dificuldades do meio físico e das ameaças de outras espécies; portanto, foi na África que o ser humano se transformou em um ser que fabrica ferramentas (tecnologia) e se diferenciou consideravelmente das demais espécies.
A África esteve na vanguarda do desenvolvimento da humanidade não só no seu início como também durante um longo tempo do período chamado de civilização (época a qual até hoje vivemos); portanto, foi também nesta parte do planeta que surgiu o que chamamos a primeira civilização humana: o Egito Antigo. Essa civilização foi apresentada ao mundo por arqueólogos europeus como sendo um povo de "raça" branca. Hoje, historiadores africanos já demonstraram que se tratou de uma civilização de povos negros; na verdade, fora constituída de uma mestiçagem de vários povos africanos existentes ao sul e norte do vale do rio Nilo. As grandiosas realizações desta sociedade são por demais divulgadas em meios de comunicações de vários matizes.

Um dos primeiros sistemas de colonização do mundo.
Pouco depois do surgimento dos antigos egípcios apareceu uma outra civilização africana chamada de Cuxe (Cush). A civilização cuxita se localizou no mesmo curso do rio Nilo, porém mais ao sul numa área denominada Núbia, região de minas de ouro. Durante sua existência, o Estado cuxita manteve variados tipos de relações internacionais com o Estado vizinho, o Egito: de início comerciais, depois conflitos territoriais e guerras de fronteiras, posteriormente houve uma invasão egípcia à região da Núbia e o conseqüente domínio sobre os cuxitas com o objetivo principal de ter sob seu controle as minas de ouro. Com este acontecimento deu-se um processo de aculturação dos núbios, isto é, foram obrigados a aceitar a língua, a escrita, os costumes, as artes e, principalmente, a religião dos dominadores; portanto, não aconteceu somente a ocupação militar, mas também um fenômeno de dominação ideológica. Enfim, deu-se uma completa colonização com todos seus requisitos culturais, ideológicos, econômicos e sociais. Foi um dos mais antigos sistemas de colonização do mundo. Com o tempo, os cuxitas expulsaram os egípcios e conquistaram sua independência. O mais interessante é que posteriormente os cuxitas deram o troco: invadiram o Egito e dominaram esse Estado por meio século tornando-se faraós.

Expansão dos impérios africanos.
O processo de criação de Estados e Impérios na África iniciou-se há muito tempo (Egito: 4000 a.c., Cuxe: 2000 a.c.). Entretanto, esteve longe de se resumir a essa região ou cronologia. Na parte ocidental do continente, ao lado do Oceano Atlântico, em torno do grande rio Níger, estados poderosos sucederam-se ao longo dos séculos X e XIV, como por exemplo os reinos de Gana, Mali e Songai. Perto do litoral do golfo do Benin, povos se organizaram em cidades-estados independentes como os chamados Yorubás e outros em confederações a exemplo dos Achantis. Mais ao sul, beirando a floresta equatorial, desenvolveram-se os reinos do Congo e Ngola. Do outro lado do continente, na sua parte oriental, existiu um Império de nome Monomotapa controlador da rota do ouro desta área, assim como o foi o reino do Gana na África Ocidental. Na costa africana oriental, banhada pelo Oceano Índico, desenvolveu-se uma civilização formada por cidades-estados autônomas e em conflitos pelo domínio dos mares e o comércio internacional com árabes, indianos e chineses. Estes povos, conhecidos como civilização Swahili, criaram uma cultura tão profundamente enraizada que até hoje marca os países dessa região da África.
Muitos outros exemplos poderiam ser citados, mas acredito ser suficientes esses para nos dar uma idéia de sua variedade e complexidade. Vale ressaltar que todas estas civilizações tiveram sua lógica de surgimento, desenvolvimento, decadência e sucessão, como acontecia em todas as regiões do planeta onde houvesse a existência de sociedades humanas. Portanto, os africanos não foram diferentes, neste aspecto mais geral do desenvolvimento das sociedades, dos povos da Europa, Ásia e América.

A luta de classes dentro da África.
Em outro ângulo de Análise, a África foi pioneira na criação do que se convencionou chamar de "civilização", o momento pelo qual surge o Estado, as grandes cidades, as artes "sofisticadas", as obras arquitetônicas de grande porte, etc. Porém, o aspecto mais importante a ressaltar é o social, a saber, trata-se do período onde surge a exploração de uns seres humanos por outros; portanto, a existência das classes sociais. Neste sentido, a luta de classe na África era uma realidade desde a antiguidade. Com isto, podemos levantar a idéia de que os conceitos de africanos, negros, "irmãos" etc., não têm muito sentido para os povos desse continente como nós aqui da América acreditamos que tenham. Quaisquer termos que ocultem as diferenças culturais ou sociais na África não possuem maior poder de interpretação da realidade. Havia camadas sociais de privilegiados de um lado e de oprimidos do outro em várias regiões da África desde muito. Isso também, mais uma vez, não os diferenciam de outros povos do planeta. Portanto, já existia injustiça social desde tempos remotos no continente africano, antes, inclusive, de chegarem os invasores externos: árabes e europeus. Vale a ressalva de que, para qualquer povo africano, invasor era todo aquele que o desejasse dominar, mesmo sendo um Estado inimigo dentro do próprio continente.

Questões do atraso africano na atualidade.
Voltaremos com outras matérias, posteriormente, sobre a colonização da África e sobre esse continente na atualidade. Por enquanto, vale o destaque de que não podemos idealizar o desenvolvimento das sociedades africanas como se a África fosse o paraíso terrestre antes de sofrer a agressão externa. Por outro lado, existe uma ideologia colonizadora européia que tenta justificar o genocídio europeu na África com argumento esdrúxulo de que eles já estavam em guerras uns com os outros. A África esteve na vanguarda do desenvolvimento tecnológico nos primórdios da humanidade, foi também a pioneira no acontecimento da civilização e continuou sendo uma das áreas do planeta mais desenvolvidas durante o chamado período medieval.

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