Antonieta de Barros.

Antonieta de Barros (1901-1952)


Antonieta de Barros nasceu em Florianópolis, Santa Catarina, em 11 de julho de 1901. De família muito pobre, ainda criança ficou órfã de pai, sendo criada pela mãe. Ingressou com 17 anos na Escola Normal Catarinense, concluindo o curso em 1921.
Em 1922, a normalista fundou o Curso Particular Antonieta de Barros, voltado para alfabetização da população carente. O curso foi dirigido por ela até sua morte e fechado em 1964. Professora de Português e Literatura, Antonieta exerceu o magistério durante toda a sua vida, inclusive em cargos de direção. Foi professora do atual Instituto de Educação entre os anos de 1933 e 1951, assumindo sua direção de 1944 a 1951, quando se aposentou.
Antonieta de Barros notabilizou-se por ter sido a primeira deputada estadual negra do país e primeira deputada mulher do estado de Santa Catarina. Eleita em 1934 pelo Partido Liberal Catarinense, foi constituinte em 1935, cabendo-lhe relatar os capítulos Educação e Cultura e Funcionalismo . Atuou na assembléia legislativa catarinense até 1937, quando teve início a ditadura do Estado Novo.
Com o fim do regime ditatorial, ela se candidatou pelo Partido Social Democrático e foi eleita novamente em 1947, desta vez como suplente. Na ocasião, continuou lutando pela valorização do magistério: exigiu concurso para o provimento dos cargos do magistério, sugeriu formas de escolhas de diretoras e defendeu a concessão de bolsas para cursos superiores a alunos carentes.
Além da militância política, Antonieta participou ativamente da vida cultural de seu estado. Fundou e dirigiu o jornal A Semana entre os anos de 1922 e 1927. Neste período, por meio de suas crônicas, ela veiculava suas idéias, principalmente aquelas ligadas às questões da educação, dos desmandos políticos, da condição feminina e do preconceito racial. Dirigiu também a revista quinzenal Vida Ilhoa , em 1930, e escreveu vários artigos para jornais locais. Com o pseudônimo de Maria da Ilha, ela escreveria o livro Farrapos de Idéias , em 1937.
Ao longo de sua vida, Antonieta atuou como professora, jornalista e escritora. Como tal, destacou-se, entre outros aspectos, pela coragem de expressar suas idéias dentro de um contexto histórico que não permitia às mulheres a livre expressão; por ter conquistado um espaço na imprensa e por meio dele opinar sobre as mais diversas questões; e principalmente por ter lutado pelos menos favorecidos, visando sempre a educação da população mais carente.
Antonieta faleceu no dia 18 de março de 1952.
Referências bibliográficas 
Brazil, Érico Vital e Schumaher, Schuma (org.). Dicionário Mulheres do Brasil de 1500 até a atualidade . Jorge Zahar.
Mott, Maria Lúcia de Barros. Escritoras negras resgatando a nossa história . Coleção Papéis Avulsos. 1989.
Oliveira, Eduardo (org). Quem é quem na negritude brasileira . São Paulo, Congresso Nacional, 1998.

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Jesse Owens
Nascimento: 12/09/1913

O americano Jesse Owens ganhou quatro medalhas de ouro na olimpíada de 1936, em Berlim e mostrou aos alemães que a raça ariana não era superior como pregava HITLER.
Nascimento: 12/09/1913 - Nacionalidade : Americana.
James Cleveland "Jesse" Owens chegou confiante na Olímpiada de Berlim -1936. "Sem querer ser presunçoso, acho que vou ganhar 3 medalhas de ouro na Olímpiada", afirmou o americano de Alabama.
Motivos para tal confiança não faltavam. Um ano antes ele havia estabelecido 4 melhores marcas mundiais (100m, 220 jardas com barreira e salto em distância) no meeting Big Ten em um espaço de apenas 45 minutos. E Jesse Owens não só cumpriu a promessa, mas a superou ao conquistar 4 medalhas de ouro nos 100m, 200m, salto em distância e revezamento 4x100m. E também bateu o recorde olímpico em todos estes eventos exceto nos 100m.
Apesar do feito extraordinário, Jesse não teve vida fácil ao voltar aos Estados Unidos. Para conseguir dinheiro ele aceitou desafios como correr contra cavalos, cachorros e motocicletas. "Não pude fazer publicidade de alcance nacional porque não seria aceito no Sul. Hitler não me cumprimentou, mas também não fui convidado para ir à Casa Branca receber os cumprimentos do presidente do meu país", desabafou Jesse.
Ele só conseguiu estabilidade financeira na década de 50 quando abriu uma firma de relações públicas e dava conferências pelos EUA. Jesse também patrocinou e participou de vários programas esportivos para jovens.
Em 1976 Jesse Owens recebeu do presidente Gerald R. Ford a maior condecoração que um cívil pode receber nos Estados Unidos: a Medalha da Liberdade. Nos anos de 1980 Jesse Owens morreu aos 66 anos de câncer.

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O negro na mídia.

O NEGRO NA MÍDIA


O Brasil é um país famoso por sua diversidade racial, porém essa diversidade não tem sido mostrada na televisão, porque ainda vivemos numa sociedade em que se valoriza a matriz européia de pensamento e comportamento, se analisássemos somente o que a mídia brasileira nos mostra imaginaríamos um país cuja população se assemelha etnicamente as civilizações européias.
A raça negra não vem sendo representada de maneira digna na TV: ou quando é representada, acaba sendo de maneira estereotipada. Em pleno século XXI ainda nos deparamos com a matriz do colonizador europeu.
Quando valorizamos apenas um segmento étnico e racial nos meios de comunicação, desperdiçamos a chance de compreender e admirar as outras contribuições trazidas pelos africanos.
Da mesma forma que acontece nas novelas, nos comerciais de TV é destinado ao negro na maior parte das vezes o papel de coadjuvante, de preferência, personagem que não tenha muita importância na história. Nos últimos anos essa realidade vem mudando em marcha lenta, mas ainda está longe de chegar ao ideal.

Atualmente somente astros negros da teledramaturgia brasileira como Lázaro Ramos, Taís Araújo e Camila Pitanga ou personalidades do esporte como Pelé, Ronaldinho Gaúcho e Daiane dos Santos tem ocupado espaço no mercado publicitário. Um ator negro que nunca tenha pisado na Rede Globo, dificilmente será convidado a gravar um comercial de TV.
A mídia nada mais é do que o reflexo da nossa sociedade, o nosso país não pratica a diversidade, e as instituições, como a escola, a igreja ou os meios de comunicação, cometem este racismo institucionalizado por privilegiar um determinado tipo étnico e um padrão de beleza.
Estamos cansados de vermos personagens negros com baixo prestígio social ou como maltrapilho, vagabundo, sem perspectiva. Em vários momentos da teledramaturgia e em outras produções da TV brasileira, há uma carga muito grande de estereótipos e preconceitos. Existe uma ação deliberada para além de sub-representar, colocar os negros e negros em patamar de desigualdade, de inferioridade. E isso é prejudicial para quem assiste. Para o jovem negro ou para a criança que está formando sua identidade isso é extremamente nocivo, pois exerce forte influência na forma de viver e de se relacionar com o mundo.
Por isso, devemos combater o racismo nos meios de comunicação, precisamos de políticas públicas que ofereçam a possibilidade de democratização da mídia e do conhecimento, nos últimos anos conquistamos significativos avanços como a criação da (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR), ações do MEC na implantação da Lei 10.639 (que institui o ensino sistemático de história e cultura afro-brasileira e africana na Educação Básica), o Pro Uni que possibilita à inserção de jovens carentes no ensino superior, medidas essas que visam combater essa conduta infeliz, pois é o Brasil quem perde por não conhecer sua real identidade.
Precisamos discutir a cultura negra profundamente, por muito tempo aprendemos na escola que o negro foi passivo no processo de colonização e escravidão no país. Chegou o momento de mostrarmos a participação do negro em diversos segmentos da nossa sociedade como a música, dança, culinária, artes, esportes, ciências, política, medicina, engenharia, tecnologia, etc.
Existe certo mal-estar no campo da ciência em admitir o fato de que o ser humano e seus antepassados se originaram na África. Sabe-se hoje que a humanidade teve seu início neste continente; portanto, foi aí onde às grandes transformações - que geraram o ser humano atual - se fizeram pela primeira vez. Do mesmo modo, as principais descobertas tecnológicas realizadas nos princípios da humanidade são originárias da África - fogo, instrumentos de matérias variados tais como pedras, ossos, madeiras, etc. - descobertas e invenções que possibilitaram a expansão dessa espécie pelo planeta e garantiram sua sobrevivência, apesar das dificuldades do meio físico e das ameaças de outras espécies; portanto, foi na África que o ser humano se transformou em um ser que fabrica ferramentas (tecnologia) e se diferenciou consideravelmente das demais espécies.
A África esteve na vanguarda do desenvolvimento da humanidade não só no seu início como também durante um longo tempo do período chamado de civilização (época a qual até hoje vivemos); portanto, foi também nesta parte do planeta que surgiu o que chamamos a primeira civilização humana: o Egito Antigo. Essa civilização foi apresentada ao mundo por arqueólogos europeus como sendo um povo de "raça" branca. Hoje, historiadores africanos já demonstraram que se tratou de uma civilização de povos negros; na verdade, fora constituída de uma mestiçagem de vários povos africanos existentes ao sul e norte do vale do rio Nilo. As grandiosas realizações desta sociedade são por demais divulgadas em meios de comunicações de vários matizes.
Essas verdades precisam ser ditas, e para que isso ocorra precisamos de mais negros jornalistas, repórteres, atores, atrizes, políticos, apresentadores ocupando o seu merecido espaço na mídia brasileira.
Chegou o momento de exercemos o nosso direito à comunicação e para isso necessitamos de veículos de comunicação feitos por negros, por afros descendentes, que exista uma mídia negra efetivamente no Brasil. Esta mídia vai ter nosso ponto de vista sobre temas atuais do nosso cotidiano.
Somente com a democratização da comunicação poderemos apresentar os fatos com veracidade, e libertar o Brasil da ignorância. É preciso conhecer quem somos e de onde viemos para conquistar a nossa Canaã – (terra prometida por Deus ao povo de Israel).

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Negros Executivos.

Executivos Negros

Preconceito racial é uma realidade nas empresas.
Eles estão acostumados a serem quase únicos. Nas universidades, nos cursos de mestrado, pós-graduação, MBAS. Quando chegam ao mercado de trabalho, com currículos invejáveis, notas acima da média, falando vários idiomas, continuam sendo minoria. Isso porque, fazem parte de uma pequena elite negra brasileira que consegue romper as barreiras sociais e do mundo corporativo, para ocupar cargos executivos nas empresas.
O Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), divulgou uma pesquisa que confirma esta realidade brasileira. Segundo ela, apenas 4,5% dos homens negros empregados na região metropolitana de São Paulo ocupam, atualmente, posições de decisão nas companhias. E só 9,6% dos executivos em cargos de direção, gerência e planejamento são negros. Para as mulheres negras, a situação é ainda mais difícil. Somente 4,3% delas ocupam esses cargos. Vale lembrar que a população negra, segundo o IBGE, corresponde a 45,3% dos brasileiros.
Quem consegue chegar lá, traz na bagagem um histórico de conquistas e de muito empenho na área do conhecimento. "A cultura e o estudo é a nossa arma no longo prazo", diz o executivo André Oliveira, 43 anos, dono da empresa Mercúrio de produções culturais. Ele formou-se e fez mestrado em engenharia no Instituto Coppead, da UFRJ, um dos mais conceituados do país. Apesar de estar entre os melhores alunos da classe, foi o último da turma a encontrar emprego. Ao longo da carreira, trabalhou em diversas multinacionais. Numa delas, foi assessor da presidência. "Sentia que meu prestígio e competência eram questionados e invejados pelos outros executivos", diz. "Um dia, pararam uma reunião e perguntaram se eu tinha sido adotado por ingleses. Como eu podia ser negro, brasileiro e ter inglês fluente?".
Os próprios headhunters admitem que não é fácil indicar um executivo negro. "É inegável que existe racismo, mas não por causa das políticas corporativas", diz Dolph Johnson da TMP Worldwide. "Ele aparece de forma sutil no preconceito de algumas pessoas". Em 26 anos como "caça talentos", indicou 500 pessoas, e apenas sete negros. Victoria Bloch, da DBM, que faz a recolocação de executivos, diz que em 13 anos atendeu 3 mil clientes, quatro negros.

Driblando as barreira sociais e corporativas.
O atual diretor de vendas corporativas da Nortel, José Marcos Oliveira, 38 anos, teve que dar duro no início da carreira ao decidir estudar no Humber College, no Canadá.
Para pagar uma mensalidade de quase U$ 1,5 mil, trabalhou como pedreiro e carpinteiro. Isso depois de ter estudado engenharia química e filosofia. Ao voltar para o Brasil, penou para encontrar um emprego à altura de sua formação. Acabou topando assumir a gerência de produto de uma empresa de comunicação de dados americana para ganhar apenas US$ 750 mensais. Bem menos do que tinha investido do próprio bolso para estudar.
Persistente, não desanimou. Em 1997, entrou para a Nortel, onde hoje ocupa a diretoria responsável pela área de vendas, marketing e engenharia. Ele está entre os 5% de executivos negros da empresa. Agora, numa fase mais estável da carreira, acredita que o fato de ser negro já não faz tanta diferença. O começo é bem mais difícil. "Existe uma fase em que parece que todo mundo está torcendo para você falhar", diz. "Quanto mais visibilidade você ganha no mercado, mais as pessoas duvidam da sua capacidade, porque você é negro". Especialmente quando se está numa posição de comando, uma equipe pode sabotar o chefe negro não contribuindo, por exemplo, para se atingir metas. "São barreiras sutis que você precisa aprender a superar", diz Oliveira.
O consultor de RH da IBM, José Carlos do Nascimento, 31 anos, conta que quando entrou para a Lotus, depois de vencer 14 candidatos brancos, era o segundo negro na companhia. Com um currículo exemplar, que incluía o curso de sociologia pela PUC e pós-graduação em RH pelo Mackenzie, logo foi promovido de analista para gerente. Na mesma época, o negro Al Zollar assumiu a presidência mundial da Lotus. Então, teve que ouvir comentários, que considerou preconceituosos, do tipo: "olha aí agora você tem chance de chegar ao topo!". Atualmente, responsável pela área de consultoria de RH da IBM, que incorporou a Lotus, ele está trabalhando num projeto de diversidade, que pretende dar voz às reivindicações dos negros da empresa, que são 60, entre os 4,4 mil empregados no Brasil.
Se a presença negra é pequena, Oliveira diz que um dos motivos é a falta de candidatos, especialmente nas posições de gerência para cima. A dificuldade de ascensão profissional está vinculada não só a preconceitos, mas também à questão social. Segundo uma pesquisa do Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) realizada na região metropolitana do estado de São Paulo, apenas 2,4% dos homens negros empregados e 4,7% das mulheres têm curso superior completo.
Muitas vezes, entretanto, o empenho pessoal não é suficiente para alavancar a carreira de uma profissional negra. Liliane Pereira dos Santos, 36 anos, gerente comercial do Yahoo! Brasil, diz que o preconceito é velado, mas existe. "É mentira quem diz que nunca sentiu isso", diz. "O melhor é encará-lo como desafio". Ela lembra que em certo período decidiu deixar o emprego porque discordava de uma política adotada pela empresa na qual trabalhava. Para recolocar-se procurou um serviço de "outpalcement". Durante seis meses, fez pelo menos duas entrevistas de emprego por semana até conseguir um trabalho. "Acho que essa demora também aconteceu pelo fato de ser negra".
"Ser negro é algo que você aprende desde pequeno", diz Roger-Marcel Sidokpohou, 53 anos, diretor da divisão de RH e Organização da AGF Brasil Seguros e vice-presidente da Câmara de Comércio França-Brasil. Ele nasceu em Burkina-Faso, perto da Costa do Marfim. Roger, como é conhecido, morou 23 anos na África e outros 23 na França, antes de chegar ao Brasil em 1994. Na Sorbonne, graduou-se em direito, na Universidade de Dijon, fez pós-graduação e MBA, o doutorado foi no "Centre des Hautes Études d'Assurances" de Paris.
Ele iniciou a carreira no grupo AXA na França e entrou para o AGF em 1975. Roger acredita que o mais importante para enfrentar o preconceito é a forma como você encara as coisas. "A hipocrisia é a pior face do racismo", diz. "O que as organizações esperam é que você agregue sua competência e é isso que você deve ter em mente”.
Tendo conhecido bem as três culturas: africana, francesa e brasileira, acabou abrindo sua mente e esquecendo a cor da sua pele. Roger acredita que hoje, com a interdependência entre as nações gerada pela globalização econômica, a palavra de ordem é compartilhar, ter solidariedade. "Isso certamente está acima de qualquer preconceito racial”.

Os "caça talentos" são testemunhas da dificuldade.
"As pessoas se assustavam quando ele chegava para as entrevistas", lembra Victoria Bloch, consultora da DBM, empresa de recolocação de executivos, referindo-se a um candidato negro, altamente qualificado da área técnica. "Ele era um dos melhores do país em sua especialidade", conta.
Os "headhunters" mal conseguem lembrar de algum presidente de empresa negro no Brasil. "Já tive que lutar para convencer empresas a contratarem um negro, porque sabia que ele era a pessoa certa", diz Dolph Johnson, da TMP Worldwide.
Carlos Diz, sócio-diretor da SpencerStuart, especializado no recrutamento para as áreas de tecnologia e telecomunicações, diz que em seis anos de carreira conversou com cerca de 1,5 mil candidatos. Destes, apenas um era negro. Ele acredita que o preconceito não chega a ser um problema, o que existe é uma falta de qualificação. "Isso é muito mais dramático".
Marcelo Mariaca, da Mariaca & Associates, diz que a naturalidade para a inserção do negro no mundo dos negócios acontece na medida em que ele consegue quebrar as barreiras sociais. "O que temos no histórico do negro com sucesso profissional é que ele já nasceu numa família com capacidade de oferecer um bom estudo", diz. "Depois vem à oportunidade, a sorte e o empenho".

O preconceito também está na questão salarial.
Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), concluiu que o homem negro sofre principalmente pela menor qualificação, que representa 73,5% da diferença salarial média. O preconceito "puro" representa 17,9%, mas aumenta na medida que acontece a ascensão salarial. O fim desse preconceito representaria um aumento salarial de 5% a 7% para os mais pobres e de 20% para os negros mais ricos. Já as mulheres negras acumulam perdas relacionadas tanto ao fator qualificação, comum aos negros, quanto ao preconceito "puro" (45% do abatimento), sentido pelas mulheres brancas.
Realizado em 2000, por Sergei Suarez Dillon Soares, da diretoria de estudos sociais do instituto, o trabalho foi baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que apontou que, em 1998, a média salarial dos homens brancos era de R$ 726,89 enquanto a dos negros, R$ 337,13. As mulheres negras recebiam ainda menos: R$ 289,22.
Considerando que esse abatimento poderia ser causado por dois fatores extras (qualificação e inserção em diferentes mercados de trabalho), Soares estimou o peso da diferença devido ao preconceito. Esse estudo sobre os motivos que levam às discriminações salariais de homens e mulheres negras pode ser conferido na íntegra, dentro do site do Ipea www.ipea.gov.br .

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História extra-oficial.

 
História extra-oficial

Como os negros no Brasil ainda não conquistaram a liberdade
MARGARIDA MARIA KNOBBE
O "Navio Negreiro", no Museu Afro Brasil
Foto: Fabio Domingues.

A Lei Áurea, proclamada em 13 de maio de 1888, declara extinta a escravidão no Brasil com poucas palavras em dois artigos: 
"Art. 1º - É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. 
"Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário". 
As disposições em contrário, no entanto, não foram revogadas nos corações e mentes. Os episódios de negação da humanidade dos negros resistiram, assim como a destruição física e cultural dos indígenas, apelidados pelos colonizadores de "negros da terra".
Havia a necessidade de um terceiro artigo, cuja redação poderia ser: 
"Art. 3º - É obrigação do Estado e da sociedade cuidar da integração social do negro para reparar o horror da escravidão".
Na opinião da cientista social e professora da Universidade de São Paulo (USP) Maria Lúcia Montes, a implementação do texto não escrito, que se esboçava no desejo de abolicionistas adeptos da monarquia, como José do Patrocínio, Antônio Rebouças e Joaquim Nabuco, foi descartada pelos republicanos que, em 1889, assumiram o governo do país.
Houve até um movimento que exigia o pagamento de indenização aos ex-donos pela mão-de-obra perdida. Rui Barbosa reagiu: "Se alguém deve ser indenizado, indenizem os escravos!" Porém, último país do mundo a aderir formalmente à abolição, o Brasil trilhou um caminho diferente daquele dos Estados Unidos. Apesar do racismo explícito e da segregação, os norte-americanos permitiram a posse da terra aos ex-escravos e o acesso à educação. Outra diferença é que nos Estados Unidos aportaram 600 mil negros e no Brasil chegaram 4 milhões.
A indignação de Rui Barbosa não encontrou eco entre as oligarquias nacionais. E sua revolta transformou em cinzas a memória desse impasse: mandou queimar os documentos de prova de propriedade de escravos e das pressões por indenização.
Os auto-identificados como afro-descendentes, que hoje representam 46% da sociedade brasileira, foram e ainda são tratados como "sem direitos". No mercado de trabalho, o homem negro ganha aproximadamente 30% a menos do que a mulher branca, que, por sua vez, já se encontra na base da pirâmide, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O negro passa menos tempo nos bancos escolares e, quando consegue chegar à universidade, não garante um rendimento semelhante ao dos brancos. As conquistas de cidadania foram tímidas e descontínuas durante todo o século 20, embaladas por um racismo cordial que só recentemente começou a ser desmascarado.
Neste início de século 21, três principais forças atuam sobre a questão: o mercado de consumo, valorizando a diversidade; grupos organizados política e culturalmente, e o Estado, com a criação de políticas afirmativas.

Soma de demandas
Do lado do mercado globalizado, há a tendência de que o produto, além de dar lucro, associe sua imagem a uma idéia de cosmopolitismo. As empresas estão percebendo que há um potencial de consumo que foge dos modelos hegemônicos construídos pela cultura ocidental, com relação ao cabelo, à cor da pele, ao uso do corpo.
Há quem se posicione contra essa exposição, alegando que, no fundo, ela ilumina uma imagem inacessível para grande parte da população. É certo que a maioria dos afro-brasileiros não tem acesso aos produtos que uma revista como "Raça", por exemplo, anuncia. Ou que a propaganda acaba escondendo mais do que revelando. E há quem considere que os efeitos são positivos porque detonam um processo de transformação, de auto-imagem positiva.
Ao lado do Estado e do mercado, é muito relevante a atuação das organizações políticas e culturais. A política formal está mudando, analisa o professor do Departamento de Antropologia da USP Vagner Gonçalves da Silva, "porque não se trata mais de apenas reger direitos e deveres; trata-se também de olhá-los de acordo com as culturas que constroem formas de tradição e formas de compreensão do mundo".
Além das reivindicações de direitos, essa atuação micropolítica comporta grupos voltados para a cultura negra e a religiosidade. "Recentemente", lembra Vagner Gonçalves, "houve um revival do folclore negro, enfocando expressões que estavam em ampla decadência, como congada, samba-de-roda, etc. O Sesc de São Paulo tem um trabalho fundamental nesse sentido, sobretudo em sua unidade da Pompéia."
Nesse contexto se coloca um problema que é de reflexão e de ação prática. Como é possível construir uma idéia de Estado universal se temos de contemporizar as diferenças existentes, sejam de cultura ou as que se referem à biologia dos corpos? A tendência internacional é de criar legislações diferenciadas para necessidades específicas, como no caso das cotas para negros, para mulheres, para deficientes. Ou então são as reparações a agressões de um povo em relação a outro, como acontece com os judeus.
O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em viagem oficial à África, pediu perdão pela escravização dos africanos. É claro que não foi seu governo o responsável, mas não podemos esquecer que a população brasileira é herdeira tanto da chibata do senhor quanto da dor do escravo torturado. E com esse paradoxo temos de nos haver.
Para alguns críticos, atrelar a conquista de direitos políticos à visibilidade cultural é o mesmo que reintroduzir o racismo num país no qual essa questão estava debaixo do tapete, ou criar um racismo invertido. Por outro lado, para muitos, como o pesquisador Vagner Gonçalves, "é melhor que a questão seja colocada às claras".
Tudo o que se refere ao afro-descendente tem raízes e conexões que se espalham pelo planeta. Envolve fatos e contextos ainda em grande parte expulsos dos livros escolares. O surpreendente é que, mesmo que extra-oficialmente, a realidade "raspada" das páginas da história ganha visibilidade. Através de pesquisas científicas e artísticas, de novas leis e de novos personagens, antigas faces, velhos dados estão sendo recuperados.

Racismo cordial
A sucessão de articulações contra a discriminação parte da identificação de que o racismo brasileiro é heterofóbico, ou seja, nega absolutamente as diferenças, funcionando como um racismo cordial. Para informações mais palpáveis, o último censo do IBGE (2000) foi fundamental, detalhando melhor a questão da auto-identificação étnica e até da religiosidade, "com a possibilidade de as pessoas se dizerem adeptas das religiões afro-brasileiras, e não mais só do espiritismo, como antigamente", esclarece Vagner Gonçalves.
Mesmo assim, pela própria relação estrutural do negro, é difícil falar de racismo e de preconceito no Brasil. "Por uma situação histórica e cultural, o racista ou preconceituoso é sempre o vizinho", explica o pesquisador.
A cientista social Maria Lúcia Montes é da mesma opinião: "Quando se pergunta a um brasileiro se ele é racista, a negação é a resposta mais comum: "Não, imagine... tenho tantos amigos negros". Se a indagação for: "Você conhece alguém que é racista?", quase sempre a resposta é afirmativa: "Ah! Conheço um monte. Minha mãe, meu pai, meu irmão, meu vizinho..."
Essas respostas são "honestas, porque não há ódio racial contra aquele negro conhecido. A lógica é a de que com o negro meu conhecido não tem o menor problema. Agora, o negro desconhecido é sempre suspeito", diz Maria Lúcia.
Costuma-se também esconder o racismo atrás do biombo da piada. Em um passado recente, alunos da faculdade de direito mais tradicional do país, a da USP, no Largo de São Francisco, publicaram um informativo onde estavam impressos dizeres como: "A escravidão como salvação dos negros africanos". Diante dos protestos quanto a tais insanidades, os responsáveis disseram que foram mal-interpretados, não eram racistas e sua intenção era brincar com a hipocrisia e o preconceito dos outros.
Se a comparação for entre países, os brasileiros dizem que racista é o norte-americano. Ou seja, continua a ser o vizinho. Acontece que, no Brasil, raça, cor, status e classe social estão intimamente ligados. Se o negro é rico, ele perde a cor. Passa a ser visto pela condição econômica. Ao mesmo tempo, o racismo se perpetua por meio da restrição da cidadania, da imposição de distâncias sociais, criadas pelas consideráveis diferenças de renda e de acesso à educação.
Quando o jogador de futebol Ronaldo Fenômeno disse, durante uma entrevista a jornalistas, que é branco, ele estava coberto de razão, de acordo com Maria Lúcia: "Essa associação perversa da cor e da condição social resulta na desatenção à cor de quem ‘venceu na vida’ ". Segundo a professora, Ronaldo está falando a língua da sociedade brasileira, na qual negro é pobre; se deixou de ser pobre, deixou de ser negro.
Há muitos exemplos desse tipo, lembra o artista plástico e fundador do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo. Pessoas que conhecemos pelas lições escolares ou como nomes de ruas tiveram sua cor apagada pelos historiadores, embora enquanto viveram não tenham renegado suas origens. "Teodoro Sampaio, Cruz e Souza, Luís Gama, Juliano Moreira, Paula Brito, Carlos Gomes, todos descendentes de negros, viraram personagens nacionais sem cor." O "branqueamento" atingiu até as fotografias desses nomes ilustres.
No início do século 20 também se "branqueavam" literalmente os jogadores de futebol. Os craques eram obrigados a usar pó-de-arroz porque os times só admitiam brancos. Daí persistir o apelido de "pó-de-arroz" dado a alguns times.
Na periferia das lições aprendidas nas escolas estão outros episódios que tentaram forçar o "branqueamento" da população. No livroUma História não Contada - Negro, Racismo e Branqueamento em São Paulo no Pós-Abolição, o doutor em história pela USP Petrônio Domingues sustenta a tese de que a imigração européia maciça foi calculada pela elite paulista para que os negros não ocupassem espaço como operários na indústria emergente.
Em pleno século 20, apesar de existir uma pequena, porém respeitável, classe trabalhadora negra especializada, formada por artesãos sapateiros, escultores, ourives, fundidores, em São Paulo o negro era impedido de entrar em hotéis, bares, cinemas, lojas e teatros. Até os anos 1950, as religiões afro-brasileiras eram perseguidas em todo o país, os templos destruídos.
Ainda hoje há denúncias de negros impedidos de entrar pela porta da frente ou ocupar o elevador social em alguns prédios. A diferença é que, atualmente, a discriminação configura crime.
Não é à toa que mestiços reneguem a gota de sangue africana. A vergonha de ser negro é fruto de um estigma colocado sobre a população e de uma estratégia de sobrevivência social. É difícil exigir que, vitimizadas nas relações sociais, políticas e econômicas, as pessoas construam um senso de auto-estima ou de autoconsciência.
O "fascínio da brancura" igualmente contaminou a literatura. A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, e O Mulato, de Aluísio de Azevedo, provam que os escritores vacilavam diante das complexidades raciais. Essa ambigüidade fez Guimarães afirmar em outro texto: "No Brasil, ninguém pode gabar-se de que entre seus avós não haja quem não tenha puxado flecha ou tocado marimba".
Mas quem é negro no Brasil? O Censo 2000 registra que os brasileiros se auto-identificaram como: pardos (39%) e pretos (6%). Os pardos são produto do racismo do século 19, que assim rotulava a miscigenação entre as raças branca e negra. A genética moderna nega a existência de raças humanas e atesta que quase 90% da população brasileira tem significativa ancestralidade africana.
Percorrendo essas dualidades, o ex-ministro da Cultura Francisco Weffort resumiu, em texto publicado no catálogo da exposição comemorativa da Data Nacional da Consciência Negra, em 20 de novembro de 2001, o que está nas entrelinhas da nossa história: "Nossas confusões em torno da questão do negro estão na base das nossas confusões sobre a nossa própria identidade como povo".

Brasileiro de corpo e alma
Todas as imagens que revelam essas ambigüidades moram no Museu Afro Brasil. Mais de 2 mil obras - esculturas, pinturas, fotografias, documentos, livros, vídeos, instalações, artesanato, tecidos, roupas e adornos - estão expostas num dos locais mais nobres do país: o Pavilhão Manoel da Nóbrega, projetado por Oscar Niemeyer no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
As culturas africana, indígena e européia, impregnadas nas peças de arte, de religiosidade, de festa e de tortura, mostram aspectos importantes da mestiçagem brasileira. Mais de 500 anos de história dialogam com os visitantes. Dialogam porque não são apenas obras para ver, é possível igualmente escutar, como as vozes do navio negreiro.
Inaugurado em novembro de 2004, o museu é principalmente resultado do esforço de seu criador e diretor, Emanoel Araujo, escultor, professor de arte da Universidade de Nova York, filho de Ogum, ex-diretor da Pinacoteca do Estado e ex-secretário municipal de Cultura de São Paulo.
O acervo foi coletado com obstinação durante mais de 20 anos, desde que o pesquisador se impôs essa missão ética e estética, "amplamente sentimental", de acordo com ele próprio, surgida a partir de três experiências pessoais.
A primeira foi uma visita à Nigéria, onde conheceu os "agudás", descendentes de escravos brasileiros que voltaram à África. A segunda, a convivência com o etnólogo Waldeloir Rego, profundo conhecedor da cultura afro-brasileira.
E, por último, a raiva que sentiu quando viu de perto as diferenças entre a população negra norte-americana e a brasileira, durante sua permanência de dois anos como professor convidado na Universidade de Nova York. "Esta foi uma experiência muito doída para mim. Eu estava convivendo com uma sociedade na qual, apesar de todo o preconceito, os negros alcançaram uma escala social muito importante. O Brasil, sob esse aspecto, andou para trás. A angústia tomou conta de mim", relata.
Munido desse misto de raiva e angústia, antes de planejar e executar o museu, o curador realizou algumas exposições temáticas. Entre elas, A Mão Afro-Brasileira (1988); Os Herdeiros da Noite (1995); Arte e Religiosidade no Brasil - Heranças Africanas (1997); Negro de Corpo e Alma (integrante da Mostra do Redescobrimento - Brasil 500 Anos, em 2000); Para Nunca Esquecer - Negras Memórias / Memórias de Negros (2001).
Esses e outros temas roteirizam o Afro Brasil como fios condutores. A equipe de educadores se dedica, por exemplo, a um curso para professores do ensino fundamental e médio sobre História da África e Cultura Afro-Brasileira, agora uma exigência curricular. Na proposta pedagógica estão sendo implementadas também as visitas monitoradas com públicos diversos: crianças, adultos e idosos. É importante ressaltar que, diferentemente de outros congêneres, a visita ali é gratuita.
Segundo a professora Maria Lúcia, um dos propósitos inéditos já se revela no nome. "Não é afro-brasileiro; é afro Brasil porque não fala apenas do negro ou do afro-brasileiro, fala do Brasil para os brasileiros com o olhar do negro."
Reproduzindo o imaginário nacional, o projeto destaca as raízes, a mestiçagem e o sincretismo, bens adquiridos que não devem ser descartados, sem esconder a violência sobre a qual eles se produziram. Há desde peças criadas na África, passando pelo período colonial brasileiro, até obras de arte contemporânea.
A implantação do museu recebeu patrocínio da Petrobras.

Massa crítica e empreendedorismo
Cultura e educação fazem parte da solução para muitos problemas brasileiros, inclusive para a ascensão social da população discriminada e excluída. Pensando dessa forma, um grupo nascido dentro da Escola de Sociologia e Política de São Paulo criou a Sociedade Afro-Brasileira de Desenvolvimento Sócio-Cultural (Afrobras), em 1998. Essa organização não-governamental (ONG), sediada em São Paulo, pretende contribuir para a inclusão dos negros brasileiros pela via do ensino formal.
A plataforma da Afrobras se dirige ao ensino superior para criar uma massa crítica de afro-descendentes em posição de construir seu próprio destino. Há basicamente quatro projetos em execução: a Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares, a primeira faculdade para negros na América Latina; convênios com outras universidades para a concessão de bolsas de estudo; a preparação de estudantes para o vestibular; e a revista bimestral "Afirmativa Plural".
"No início, fizemos um curso preparatório para o vestibular voltado para as faculdades públicas. Não deu certo, o fosso era muito grande entre a formação dos estudantes e a exigência dessas instituições", relata José Vicente, presidente da ONG. O caminho, então, foi preparar os jovens para ingressar em outros cursos superiores privados, também negociando bolsas de estudo para manter as matrículas.
Como a preocupação é permitir o acesso à educação superior aos alunos provenientes de classe econômica desfavorecida, as mensalidades são reduzidas no curso para o vestibular e na Universidade da Cidadania. Outra estratégia é destinar a maioria dos postos de professores do cursinho para os estudantes universitários bolsistas.
Convênios com empresas e órgãos governamentais ajudam a manter as salas de aula, adquirir equipamentos e pagar professores. "Não temos um braço religioso, não temos um braço sindical nem um braço internacional. O que temos são parcerias pontuais", explica José Vicente.
A Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares é uma alternativa à polêmica política de cotas no ensino superior. Fundada em 2003, exibe outro pioneirismo: é a primeira, no Brasil, que tem 40% de seu corpo docente formado por negros. E, na composição das vagas, 50% são destinadas a alunos negros. Os atuais 600 matriculados contam ainda com assistência psicológica, um programa de estágio e conteúdos voltados para questões culturais afro-brasileiras.
O foco é a área de administração, em quatro especializações: administração geral, administração financeira, comércio exterior, serviços e comércio eletrônico. Segundo José Vicente, os cursos foram planejados para que "os negros possam ser contaminados com o germe do empreendedorismo. Precisam usar seu talento, seus dons para gerir negócios, montar suas empresas".
Até hoje o negro foi usado como produto. Vende o corpo, a cultura, e não consegue administrar esses seus bens. "Precisamos ter condições de intermediar e interferir nesse mercado para haver uma mobilidade social mais sustentável", diz o presidente da Afrobras.
A ONG, portanto, investe na capacitação dos afro-descendentes para que participem do jogo de forças sociais, econômicas e políticas. Ou, segundo as palavras de José Vicente, "para tirar o negro do porão, onde ele foi colocado também pelos anos de governos militares, por toda desmobilização social neste país".

Alforria, ainda que tardia
As demandas da sociedade civil das últimas décadas forçaram ressonâncias no poder público. Os projetos governamentais tiveram início a partir do Plano Nacional dos Direitos Humanos e do Programa de Ações Afirmativas, estabelecidos durante o governo Fernando Henrique Cardoso. As ações se espalhavam por nove ministérios sem que houvesse o gerenciamento de um órgão específico.
Isso mudou em 2003, a articulação passou a ser de responsabilidade da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Criada no governo Lula, com status de ministério tendo como prioridade alguns projetos como a execução de uma campanha para combater a anemia falciforme (que atinge a população afro-descendente), à luta contra os crimes raciais e à demarcação das terras pertencentes aos remanescentes de quilombos. A secretaria é coordenada atualmente (2008) pelo ministro Edson dos Santos.
Um outro grande avanço na área jurídica, é o Estatuto da Igualdade Racial. Para o senador Paulo Paim (PT/RS), o documento "é a carta de alforria que os afro-brasileiros não receberam quando da abolição da escravatura". O tal terceiro artigo da Lei Áurea que não foi escrito.
No entanto, se a missão da Seppir, por definição, deve atender à demanda dos grupos discriminados do ponto de vista racial e étnico, com ênfase na população negra, o desafio é enorme. Não só pela magnitude dos problemas a ser enfrentados, mas porque reverter essa situação não é tarefa que se realize por decreto.
Além disso, a ênfase nos afro-descendentes, mesmo que sejam a maioria da população brasileira, faz surgir justas demandas dos grupos indígenas, dos ciganos e outros.
De qualquer forma, assistimos a um grande avanço. O debate democrático foi iniciado, sabendo-se que a diversidade brasileira exige trilhar caminhos ainda desconhecidos no país. Exige também, como diz a letra do hip hop Guerreiro Guerreira, de Hélião, altas doses "de responsabilidade, de verdade. Correr pelo certo e não trair a nossa fé. E ter humildade. Para qualquer eventualidade. Para estar à vontade. Para o que der e vier".

Origens do preconceito

__Para entender o que é o racismo e o preconceito precisamos visitar as idéias que funcionam como piloto automático. Essas idéias, a partir das quais criamos o mundo que habitamos, são transmitidas pela família, pela religião, pela escola e por outras inserções culturais, transformando-se em verdades incontestáveis, mesmo que a experiência individual prove o contrário.
__Saber identificar essa carga de ancoragem muito profunda, que alguns cientistas sociais chamam de "representações", já é um bom começo. As raízes do racismo têm, pelo menos, três origens inter-relacionadas: antropológica, histórica e religiosa, explica a professora Maria Lúcia Montes, da USP.
__A humanidade é etnocêntrica, ou seja, cada grupo toma suas características culturais como certas e como medida para avaliar os demais. Há sempre dois processos complementares: o da identidade e o da alteridade. O outro (alter), o diferente é sempre visto com suspeita.
__Por conta disso, a humanidade viveu a idéia - que ainda sobrevive em nós - de que os outros são bárbaros, ameaçadores e fascinantes ao mesmo tempo. Porém, o pré-conceito que permaneceu com mais força em nosso piloto automático vem do século 19, quando a ciência estabeleceu que os povos das Áfricas e das Américas, por exemplo, eram primitivos. E os primitivos teriam de evoluir até chegar a ser como os ocidentais civilizados.
__É com esse ranço de uma ciência equivocada que ainda lidamos. Muitas impressões advindas de séculos anteriores ainda povoam nossas representações do mundo. Somado a essa imagem, há o fato histórico concreto de que, no Brasil, negro foi sinônimo de escravidão.
__Associações perversas ainda encontram aporte em interpretações religiosas. Negros eram os mouros infiéis (muçulmanos), contra os quais lutaram os cruzados cristãos. Igualmente havia a imagem negativa dos "filhos de Cam" (ou Cã). Julgava-se que os africanos seriam descendentes de Cam, um dos três filhos de Noé. Cam seria maldito por ter visto seu pai nu, além de tomar como esposa uma descendente de Caim. Atualmente, as religiões neo-pentecostais atacam os cultos afro-brasileiros, recriando estigmas católicos como o diabo e o inferno.

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Genocídios e a disputa pelo petróleo Africano.

Crise em Darfur
QUAL O INTERESSE POR TRÁS DA CAMPANHA CONTRA O GENOCÍDIO EM DARFUR?
 
Sob a desculpa de que é preciso derrubar mais um governo anti-democrático e de orientação islâmica extremista, os EUA fomentam uma guerra civil interminável para tentar se apoderar do petróleo sudanês.
 
O INÍCIO DO CONFLITO
O conflito em Darfur começou em meados de 2003 e estima-se que mais de 300 mil pessoas tenham sido mortas, além de mais de dois milhões terem abandonado suas casas. Quem mata e expulsa estas pessoas? Quem paga por estas mortes?
O mais informado poderia dizer sem dúvida que os responsáveis por esta matança são as milícias pró-governo, como os janjaweed, que praticam todo o tipo de atrocidades contra a população que vive em Darfur. Porém, por trás destes grupos estão aqueles que mais falam em direitos humanos para tentar convencer todo mundo de que é preciso derrubar mais um governo anti-democrático e extremista islâmico.
Se a verdade vir à tona, é fácil entender os motivos do genocídio: Petróleo. A compreensão se torna ainda mais clara se atentarmos ao fato de que o Sudão está localizado bem em cima de um oceano de petróleo. Quem está mais interessado por todo esse petróleo? Os EUA e suas companhias.
Darfur é uma província semi-árida, no Oeste do Sudão, maior país do continente africano.
O País é dividido etnicamente por uma maioria árabe, mas em Darfur a maioria da população é negra, de origem centro-africana. Disputas territoriais pelo controle dos recursos naturais, como o petróleo, e de terras, envolvendo nômades e fazendeiros, estão na origem do conflito.
No decorrer da guerra, dois grupos que se opõem ao governo se uniram e formaram o Fronte de Redenção Nacional, liderado pelo ex-governador de Darfur, Ahmed Diraige. A partir de 2003 milícias criadas pelo governo passaram a reprimir os grupos de oposição escondidos em Darfur, mas esta repressão veio sob a forma de uma campanha de extermínio étnico na região.
A estimativa mais aproximada de mortes até hoje chega a cerca de 300 mil, mas devido à inacessibilidade de organismos chegarem até os locais, é impossível saber o número exato de vítimas e refugiados.
Somente em 2006, depois de famílias inteiras serem dizimadas, mulheres sendo estupradas e jovens mutilados, um tratado de paz foi assinado com a mediação da União Africana.
O governo sudanês apoiou oficialmente o acordo, mas somente uma facção aliada assinou o tratado. Ficara estabelecido que o governo desarmaria os janjaweed, mas nunca nada foi feito. Mais à frente descobriremos por quê.

ANTES DO INÍCIO DO CONFLITO
Com o apoio dos seus títeres em outros países africanos, os EUA treinaram e financiaram vários grupos de oposição ao governo sudanês, como o Exército de Libertação Popular do Sudão (SPLA), liderado pelo já morto John Garang. Este recebeu em rígido treinamento militar na escola das Forças Especiais dos EUA em Fort Benning, Georgia.
Além deste grupo há também o Movimento Justiça pela Igualdade (JEM).
Tal como fez durante muitas décadas na América Latina - e certamente ainda faz hoje - os EUA treinaram e treinam militares africanos em suas bases através do Programa Internacional de Educação Militar e Treinamento (IMET), onde estão "alunos" vindos do Chade, Etiópia, Eritréia, Camarões e da República Centro-Africana, todos vizinhos do Sudão.
Os EUA querem voltar a ter o controle total sobre as jazidas africanas. As grandes companhias norte-americanas já tiveram acesso ao petróleo do Sudão quando em 1979, Jafaar Nimeiry, presidente Sudão entre 1971 e 1985, rompeu com a política da União Soviética e deu a concessão para a Chevron.
Naquela época havia um embaixador norte-americano da ONU que viria a se tornar presidente dos EUA: George H. W. Bush, pai do ex presidente George Bush. Ele havia informado pessoalmente ao presidente sudanês sobre fotos tirados por satélites que indicavam a presença de muito petróleo no Sudão, na região de Darfur.
Começava então a chamada Segunda Guerra civil do Sudão, em 1983. Foram tantos atentados e assassinatos que a Chevron foi praticamente expulsa pelas milícias em 1984, até que em 1992 vendeu sua concessão, dando oportunidade para a China tentar a sorte. Desde 1999 a China explora as concessões petrolíferas que eram da Chevron.

O OURO NEGRO DO CONTINENTE NEGRO
A África está no centro dos interesses do imperialismo em todos os sentidos. Politicamente, economicamente e militarmente o continente negro é controlado pelo imperialismo norte-americano e europeu, na qual se apoderam de todos os recursos naturais, além de ser uma importante base na sua campanha de "guerra ao terrorismo".
Na verdade, o suposto combate ao terrorismo esconde uma guerra suja pelo petróleo africano, assim como a ocupação do Iraque e as atuais ameaças ao Irã.
Até 2015, os EUA querem que 75% de sua importação petrolífera venha diretamente da África, uma alternativa ao petróleo vindo da América Latina e Oriente Médio, as duas regiões mais instáveis do mundo.
A recente descoberta de petróleo no Chade, também palco de graves distúrbios, incluindo uma tentativa de golpe de Estado em 2008, reforçou o interesse do imperialismo por novas perfurações. Só o Chade possui uma reserva de 1,5 bilhão de barris de petróleo.
Em Darfur, se seguirmos a linha da crise também chegaremos ao petróleo. O Sudão é disputado por várias forças que querem se apropriar dos seus recursos naturais.
A força destes grupos e sua capacidade de destruição vêm do dinheiro enviado pelo imperialismo, principalmente pelos EUA, maior interessado no ouro negro.
A missão formada pela ONU e pela União Africana é apenas um biombo que esconde uma ocupação militar em favor dos interesses do imperialismo. Estes interesses não incluem apenas o petróleo, mas também a venda de armas, muitas armas.
Um estudo elaborado pela Organização Não-Governamental Oxfam International mostrou que apenas o custo das guerras na África supera todo o dinheiro destinado ao desenvolvimento do continente.
O custo das guerras na África entre 1990 e 2005 foi de US$ 284 bilhões, o equivalente a toda a ajuda destinada ao desenvolvimento do continente no mesmo período.
Esta ajuda não inclui apenas doações, mas também empréstimos dos países imperialistas aos países africanos. Estes números contabilizam apenas a venda de armas no mercado legal, pois clandestinamente os investimentos são muito maiores.
Em 15 anos, pelo menos 23 conflitos produzidos pelo imperialismo foram suficientes para reduzir em 15% o PIB (Produto Interno Bruto) africano por ano, isto é, US$ 18 bilhões por ano.
Os principais países que financiam este fiel retrato do capitalismo são os EUA, Reino Unido, Rússia, Alemanha e China. Só os EUA venderam aos países africanos mais de 10 bilhões de euros e é o maior exportador de armas para a África, seguindo da Rússia (quatro bilhões) e Reino Unido (2,3 bilhões). Toda esta quantia não leva em consideração as armas que entram no continente através de contrabando.

NO PÁREO PELO PETRÓLEO AFRICANO
A companhia petrolífera chinesa CNPC (China National Petroleum Corporation) é atualmente a maior investidora estrangeira no Sudão, com mais de US$ 5 bilhões investidos nos campos petrolíferos do País. De 1999 para cá, por exemplo, a China investiu cerca de US$ 15 bilhões.
Não por acaso são donos de 50% da maior refinaria do Sudão, localizada perto da capital em parceria com o governo. A CNPC construiu um oleoduto que começa nos blocos de concessão até um porto no Mar Vermelho, de onde o petróleo é carregado por navios tanques até a China.
O Sudão produz por dia 500 mil barris de petróleo por dia, dos quais entre 65% e 80% pertencem à China.
Os campos petrolíferos estão concentrados justamente na região do conflito. Portanto, quando é difícil e confuso de entender a origem e o motivo de tantas guerras no Oriente Médio e, neste caso, em Darfur, pense no petróleo e chegará facilmente à resposta.
As disputas em Darfur começaram a partir do momento em que os EUA passaram a financiar milícia contra o governo para incentivar as disputas étnicas, a divisão do País e, dessa forma, justificar uma ocupação militar. Ou seja, uma verdadeira ameaça à hegemonia chinesa.
Há entre a região entre o Sudão e o Chade - exatamente em Darfur - uma intrínseca disputa pelo petróleo, onde a China é a detentora e os EUA querem se apossar. Não por acaso a crise em Darfur começou no mesmo ano em que o Iraque foi invadido. Trata-se da sede insaciável do imperialismo norte-americano por petróleo.
Se por um lado os EUA se apóiam na força militar e guerra suja, por outro, patrocinam uma campanha de propaganda de massas sobre a questão de Darfur. São eles os maiores interessados em denunciar o genocídio na região.
É curioso destacar que na época do genocídio em Ruanda, onde algo em torno de 500 mil a 1 milhão de pessoas tenham sido mortas em alguns meses de 1994, os EUA recusavam-se em reconhecer que se tratava de um genocídio, pois estavam em posição desfavorável. Agora que necessitam de novos poços petrolíferos, querem derrubar o governo do Sudão e botar no lugar um títere.
A França também está prestando seus serviços no Chade, país vizinho ao Sudão, onde o poder na ex-colônia francesa vive permanentemente ameaçado por milícias financiadas diretamente por Nicolas Sarkozy.
É por isso que o governo sudanês sempre recusou a presença das supostas "tropas de paz", pois sabe que permitir isso é o mesmo que concordar com a sua deposição.

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AIDS: PROJETO DE GENOCÍDIO?

SERIA UMA NOVA FORMA DE CONTROLE DA POPULAÇÃO DOS PAÍSES DO TERCEIRO MUNDO?

O vírus da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é um dos assassinos mais poderosos. Depois do contágio, ele ataca o sistema imunológico humano deixando as vítimas vulneráveis a qualquer doença e até um resfriado pode ser fatal. Surgiu pela primeira vez na África em meados dos anos setenta e desde então propagou-se por todo o continente e espalhou-se pelo mundo.

Dados da ONU indicam que cerca de 40 milhões de pessoas já contraíram a doença, com uma taxa de mortalidade de mil pessoas por dia, e com 90% dos casos conhecidos concentrados na África negra e no sudeste asiático. Alguns pesquisadores, intrigados com o fato do vírus atacar principalmente populações dos países do Terceiro Mundo, desconfiam que os países ricos desenvolveram secretamente a AIDS e a utilizaram como arma biológica, com a finalidade de impedir a explosão demográfica no planeta.

Esta acusação se apóia em vários documentos do governo americano, sendo o mais importante deles o National Security Study Memorandum (NSSM) 200, redigido em abril de 1974 pelo então conselheiro de segurança nacional dos EUA, Henry Kissinger. Tornado público em 1990, no cumprimento da lei de liberdade de informação, seu conteúdo é assustador e revela o cinismo do governo quando declara: " A despovoação deveria ser objetivo prioritário da política exterior dos Estados Unidos em relação ao Terceiro Mundo", e mais "a redução da taxa de crescimento da população nesses países é vital para a segurança nacional dos EUA".

As horríveis implicações do NSSM 200 ficam muito mais relevantes quando o analisamos junto com outro documento redigido em 1970. Nele o Departamento de Defesa pede insistentemente que o Senado aprove um financiamento para um programa de pesquisa e desenvolvimento de uma arma biológica que atacasse o sistema imunológico humano. Pesquisadores do Exército americano afirmavam que poderiam criar agentes biológicos sintéticos, num prazo de cinco a dez anos e a um custo de US$ 10 milhões. A soma solicitada foi concedida. Poderia ter sido o vírus da AIDS o resultado desse projeto?
Hoje em dia médicos e cientistas de prestígio asseguram que sim. Teria sido sintetizada no laboratório de segurança máxima de Fort Detrick, em Maryland, sede do programa de guerra química e biológica dos Estados Unidos ou no Centro para Controle de Doenças (CDC), em Atlanta. Seria o resultado do cruzamento de dois vírus: o visna, que ataca ovelhas mas não contamina o homem e o VLCHT-1 (vírus da leucemia celular humana), que mesmo não sendo letal é muito contagioso para as pessoas. Seletivo, só atacaria o sistema imunológico de determinadas raças (negros, asiáticos ou hispânicos).

Ninguém se assusta com o fato das armas biológicas serem uma prioridade das estratégias militares do futuro. O problema é a inexistência de um sistema seguro de controle que evite a disseminação das doenças criadas em laboratórios por todo o mundo e que uma guerra desse tipo poderia começar sem que a sociedade percebesse, tendo como único sinal revelador o número crescente de mortos.

Fonte: www.militarypower.com.br/

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Mensagem de Veto
Altera a Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1 o A Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:
"Art. 26-A.Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1 o O conteúdo programático a que se refere o capítulo deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
§ 2 o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.
§ 3 o (VETADO)"
"Art.79-A. (VETADO)"
"Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra'."
        Art. 2 o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
        Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182 o da Independência e 115 o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Nova lei inclui o estudo da África e da cultura afro-brasileira nas escolas.
 

O professor Carlos Serrano, do Departamento de Antropologia, concede entrevista e fala sobre a nova lei que insere o estudo da história e da cultura afro-brasileira nos Ensinos Fundamental e Médio. A lei inclui história da África, dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra e suas contribuições nas áreas social, econômica e política. Angolano, Serrano pertence ao Centro de Estudos Africanos da FFLCH – (Faculadade de Filosofia, Letras, Ciências e Humanas).
.:: Rodolfo Vianna

Professor, qual a importância da nova lei?
Isso não é uma novidade, penso eu. Para aqueles que lidam, sobretudo com o ensino dos temas ligados à África é uma criação que vem já há muito. Principalmente na Universidade na medida em que houve continuamente uma luta, por parte daqueles que trabalham com coisas ligadas à África ou afro-brasileiras, de fazer prevalecer um espaço onde essas discussões possam acontecer. Não se deve esquecer que também o Movimento Negro como no caso da Bahia tem uma experiência no campo educativo desde a década de 80. Então, nós dentro do Centro de Estudos Africanos dentro da USP, criado há mais 30 anos, tínhamos em parte essa finalidade: trazer para a Universidade um espaço que pudesse ser de reflexão e de dar a conhecer determinados aspectos, não só do conhecimento africano, como algumas dimensões da diáspora.

A diáspora a qual o senhor se refere é o movimento originado da escravidão, com a retirada de negros da África pelo tráfico?
Sim, e de criação de uma cultura própria. Não se poderia dizer que há, agora, uma cultura africana, mas durante todo esse tempo construiu-se também uma cultura específica dos afro-descendentes. Coisas que facilmente se encontram no dia a dia, que as pessoas podem não perceber. A forma do linguajar, no léxico empregado no cotidiano, uma infinidade de palavras de origem africana e que se esquece, inclusive como tributo cultural africano que hoje, evidentemente, é brasileiro porque foi criado aqui. Seja lingüistico, seja de ordem religiosa, que é importante, culinária, enfim, vários aspectos que até se folclorizam mas que não se cristalizaram, ao contrário, vão se transformando e até foram apropriados pela sociedade. Basta falar de MPB. O que é MPB? Nada mais é do que uma música que tem origem afro-brasileira. O samba, etc.
Agora, a Universidade de São Paulo vêm fazendo seus estudos e revertendo-os à sociedade bem como na Universidade Federal da Bahia (Centro de Estudos Afro-Orientais), a Universidade Cândido Mendes (Centro de estudos Afro-Asiáticos) e um Núcleo de estudos Africanos na Universidade de Brasília, coisa que pouco ocorre nas outras Universidades no Brasil. Esse decreto, penso que vai novamente levantar a questão das Universidades terem, por exemplo, um curso de História da África, que nem todas tem, não havia a obrigatoriedade.

E pela lei 10.639 também haverá a expansão para os Ensinos Fundamental e Médio?
Exato. O problema é esse, o de transformar todo o conhecimento que as Universidades produzirem em não só acadêmico, mas também acessível às escolas. Não existe produção maior nesse campo. Nós vemos nos livros didáticos parcelas pequenas, correndo sobre aspectos importantes que eu acho que agora devam ser exploradas numa linguagem diferente e de forma sistemática.

Como o senhor vê o veto à obrigatoriedade de 10% do currículo destinados ao ensino da história e cultura afro-brasileira?
Eu tenho a impressão que a não exclusão dos 10% seria justamente por isso, por haver uma falta de um raciocínio didático. Só espero que os 10% não sejam reduzidos a 1%. Porque isso já é o começo. Enfim, foi feito o decreto, foi lançado agora a iniciativa para que a comunidade acadêmica produza para as escolas. Tem pouca coisa. Eu estava vendo uns livros que tem por aí, de nível de divulgação, e eu não consegui reunir muita coisa. Têm livros que podem servir como obra de referência, mas que precisam ser “traduzidos” para o uso do Ensino Fundamental ou Médio. Isso vai levar algum tempo. Mas é interessante se criar agora, dentro e fora da Universidade, certos núcleos para a redação desses textos fundamentais.
Há também o problema das editoras, que precisarão renovar seus livros já prontos. Mas há de se lutar contra esses empecilhos. Primeiro essas pessoas produtoras desses livros, professores de história contemporânea, história colonial, que redimensionem o espaço da discussão sobre África e afros-descendentes. Então, há um outro encontro entre aqueles que vão produzir alguma coisa e aqueles que vão editar. E, depois, para que tudo isso também se suceda não é necessário só os livros mas também a formação continuada dos professores das escolas públicas.
Mas o treinamento obrigatório, a reciclagem de professores junto a entidades afro-brasileiras, Universidades e institutos que se dedicam ao estudo do assunto foi vetado também. O argumento do MEC, dizendo que isso não se faria necessário, é que o tema já é mencionado na Lei de Diretrizes e Bases.
A Lei de Diretrizes e Bases não dispõe sobre a formação de professores, talvez seja esse o problema, mas isso me parece ser necessário. Os cursos me parecem imprescindíveis para dar uma orientação aos professores, saber o que eles vão dar. A preocupação deles, pelo que senti nessa experiência que tive, é essa: não se têm livros e como vai se passar o conhecimento aos alunos. Eu me lembro que as escolas que visitavam o Museu de Arqueologia e Etnologia, aqui da USP, tinham alguma dificuldade em passar pelo módulo África. Queriam visitar o museu todo, mas o módulo África muitas vezes não queria visitar porque os professores não se sentiam a vontade para explicar, havia um estranhamento muito grande em relação à culturas africanas. E esse estranhamento ainda continua, e não é só dos professores do secundário. Eu vejo em sala de aula estudantes que faz o meu curso de Introdução à Etnologia da África Negra e muitas vezes é alguma coisa de longínquo, de exótico...

Ainda é o folclórico.
Exatamente. Dos filmes que estão por aí, Tarzan, estereótipos ainda reinam. E essa é, talvez, a grande tensão de colocar no currículo. Ainda mais num país que tem metade da população descendente, de vários graus. E depois não é só a descendência biológica, é a descendência cultural. Porque nós estudamos a História da Revolução Francesa, Idade Média, e nós não aprendemos História de África? É uma fronteira do Brasil. O Atlântico não é tão imenso, ainda mais hoje em dia, para que nós não possamos estar do outro lado com os nossos irmãos africanos. Talvez, para as companhias aéreas que ainda acham que sim e são passagens caríssimas, mais caras do que para a Europa. Há ainda muitos países que falam português, que estão conosco, foram colonizados pelo mesmo colonizador, têm uma história muito próxima da nossa. A gente desconhece também a nossa dimensão na questão do tráfico. Há um historiador, Felipe Alencastro, que escreveu um livro há dois anos, O tratado dos viventes, que demonstra, em partes, que a formação do capitalismo brasileiro dependeu do tráfico em Angola. A história de Angola está muito ligada à do Brasil. Os angolanos estudam, de certa maneira, um colonialismo português e um colonialismo brasileiro em relação à Angola. Então deve se desmistificar muitas coisas, há uma mistura muito grande.

No estudo secundário é pouco mencionado, ou até mesmo nem sequer se menciona as etnias e suas diferenças.
Exato. Eu sou Angolano, vim há quase 30 anos, tenho 25 só de USP. No começo, eu ficava admirado com livros, até mesmo acadêmicos, que falavam da escravidão e que traziam uma série de conceitos sobre diversidade cultural misturando-os. Diziam que vinham para o Brasil angolanos, benguelas, bantus, sudaneses, pensando que isso eram etnias, e não eram. Toda uma mistura que não traduz a realidade. Os bantus são um grupo etnico-lingüístico que agrupa uma quantidade de grupos étnicos ao sul do Equador, na África Austral. É uma grande família lingüística como nós poderíamos agrupar as línguas latinas. Há uma afinidade lingüísticas mas são línguas diferentes. E o continente africano possui 1500 línguas. Fala-se de África como uma certa homogeneidade. Fala-se africanos, como poderíamos falar latino-americanos, com uma complexidade talvez maior do ponto de vista etnico-lingüístico. Com os sudaneses também é a mesma coisa, são uma família etnico-lingüística. Por exemplo os angolanos (como identidade em construção) só surgiram no século XIX, com a criação dos Estados Nacionais, depois de 1885 com a Conferência de Berlim que delimitou arbitrariamente as fronteiras imposta pelo colonialismo...

As fronteiras "retas"?
Isso. Cortando os povos, as línguas, tudo. Desrespeitando totalmente as culturas existentes. Há ainda gente que telefona aqui para o Centro e diz “professor, eu tenho aqui uma palavra que eu preciso traduzir, é uma palavra africana” , jornalistas mesmo, e eu digo “meu amigo, são 1500 línguas. Se eu puder ajudar...”. Isso demonstra uma ignorância total.
Então, a tomada de consciência demanda um trabalho gigantesco, mas não que não se possa fazer. Tem que, agora, obrigar mesmo. As coisas não podem ficar só como uma intenção curricular e depois os governos digam que não têm possibilidade e continuem dando aquilo que já é dado. Não. Tem que se fazer um certo esforço. E a comunidade toda deve se esforçar.

E o senhor crê que a lei 10.639 possa ser uma ferramenta para a diminuição do preconceito racial?
Eu acho. O problema está na maneira com que for ensinada nas escolas. E é por isso que precisa capacitar os professores. Havendo a falta de conhecimento, vão dar aquele conhecimento estereotipado. Que já existe, por vezes, nas rádios, jornais e televisão. A notícia é uma forma de se colocar isso. Os jornais quando falam na Guerra no Kosovo falam de limpezas étnicas. Quando falam de África, falam de guerras tribais. E quando falam de guerras tribais é um estereótipo, uma forma pejorativa. Essa carga acaba sendo repetida e repetida, formando uma opinião pública errada. Uma notícia de três minutos num jornal de televisão tem um poder de ação muito grande. Isso é problemático.
E o preconceito quase sempre deriva desse desconhecimento?
Exatamente. A culpa também não é só dos jornalistas. Quer dizer, o pessoal que se forma também devia ter uma matéria que fosse formadora desses aspectos, que contribuísse para a diminuição do estereótipo, do preconceito. Eu lembro quando minha filha entrou na escola, havia livros dela que me arrepiavam. Diziam, assim, coisas simplistas como “escravizou-se o homem negro porque na África já havia escravidão e o índio estava desabituado, não tinha hábitos de escravidão” Isso é uma forma tão simplificada que conduz ao erro.

E tão comum de encontrar ...
E tão comum de encontrar. Depois há outra passagem que me lembro dizendo “depois vieram os imigrantes substituir os escravos porque eles tinham uma agricultura mais desenvolvida.” Agricultura na África é coisa de 3 mil anos! Experiência, então, em agricultura tropical é mais africana que européia. Enfim, todas essas coisas precisam ser rediscutidas. E depois começar a criar, também, um elemento de auto-afirmação. Parece que África é ausente de cultura, então, as próprias iconografias que ilustram os livros colocam sempre, quando se fala em África, negros ou em navios negreiros ou acorrentados. E depois, por exemplo, Tumbuctu era um império do século XV, e que tinha até Universidade que espantou cronistas árabes. Então são essas coisas que devem servir para a auto-afirmação para os próprios afros-descendentes.

A mesma lei oficializa o dia 20 de novembro como o Dia da Consciência Negra no calendário escolar. Como anda a consciência negra brasileira e se fez necessário a oficialização do dia?
Eu acho que é um marco. Se o Brasil tem heróis brancos, porque não tem um herói negro, que é Zumbi? É um marco da resistência e talvez a sua sociedade era muito mais aberta. A gente pensa que o quilombo era um lugar só de negros, mas no Quilombo dos Palmares há crônicas dizendo que até brancos viviam lá dentro, índios e mais. E era de uma dimensão enorme, resistiram durante tanto anos e era uma ligação com África muito grande. O quilombo é uma coisa também criada na África. A rainha NZinga, que passa para o folclore brasileiro como rainha Ginga, era um rainha africana que resistiu 40 anos aos portugueses. E ela passa num rito de iniciação num grupo guerreiro chamado Jaga que tinha acampamentos militares chamados quilombos. E que eram uma máquina de guerra na resistência, e ela passa pelo rito porque quer lutar contra os portugueses. Então, acho isso interessante, o dia, o marco. Eu acompanhei a um filme, de uma colega nossa, Ori da Raquel Gerber, que é uma história no fundo baseada numa personagem, nossa amiga que infelizmente faleceu, uma historiadora negra, Beatriz Nascimento, que tenta recuperar as suas origens em Angola. No fundo, serve-se como pretexto, essa parte é um pouco ficcional, para dar o histórico do movimento de consciência negra, do MNU, Movimento de Negros Unificados, desde das suas origens. Mas não só, também de outros movimentos paralelos. Eu acompanhei isso, um pouco pelo lado da Universidade e pela amizade com certas pessoas.
Eu não estive nunca no movimento, mas quando era solicitada uma palestra ou coisa assim eu atendia. Eu acompanhei, e realmente esses movimentos de consciência nesses últimos 20 anos foram muito importantes. No início, as coisas eram muito fragmentadas, isoladas em um ou dois intelectuais negros que estavam ligados à Universidade. Hoje, não. Há vários núcleos, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia.
Um outro exemplo. Eu me lembro que, uma vez, estudantes de história duma associação estudantil, se reuniram – há quase 10 anos – e discutiram o que é que na História do Brasil não é falado? Qual o silêncio na História do Brasil? E falaram: os negros e África. E promoveram um grande encontro de estudantes e convidaram várias pessoas que trabalhavam com África para fazer palestras. Foi uma das coisas mais bonitas que eu vi na minha vida. Fui a Porto Alegre e tinha 700 a 800 pessoas inscritas. Passamos dois ou três dias, e tinha ônibus de todas as partes, vários estados, era lá no Sul e tinha gente do Centro-Oeste e do Norte. Aí, chegaram a conclusões e disseram que a próxima, depois de dois anos, seria feita novamente sobre História da África. Foi feita em Ribeirão Preto, em Aquidauana, no Rio de Janeiro, um outro em Volta Redonda, e depois, isoladamente, no Centro-Sul e depois, quando seria no Estado de São Paulo, deixaram cair e nunca mais foi feito. Alguns outros encontros continuaram, mas daquela magnitude não mais. Foi uma pena. Quem sabe agora há uma nova motivação para os estudantes não só de História, mas de Ciências Sociais, Jornalismo, das Ciências Humanas em geral.

Serão ensinadas, nas aulas de Educação Artística, as artes africanas e afro-brasileiras. Isso é importante?
Muito. E isso também não é uma coisa nova, tem sido feito. Eu conheço pessoas que fizeram cursos sobre África e dão cursos em escolas, levando todo um aprendizado e uma dinâmica. Sobretudo na periferia onde há muito estudantes afro-descendentes que encontram, principalmente nos movimentos de músicas, hip hops, um interesse muito grande. É só questão de levar o conhecimento a eles porque interesse há.

Finalizando a entrevista, qual a expectativa do senhor sobre os efeitos da nova lei na sociedade brasileira?
É isso que eu penso. Eu acho que esse decreto é um desencadeamento de um processo que deve ser cultivado. Eu costumo dizer que eu sou um “afro-otimista” e não é só isso, durante os últimos 20 anos e vi um crescimento em todas as áreas de pessoas interessadas. Então a tal da obrigatoriedade, eu penso esse decreto como a possibilidade de agilizar para que isso possa dar certo. Por isso mesmo é que eu acho que grandes processos passam pela educação. A questão fundamental é a diminuição do preconceito. O ideal é aboli-lo, mas pelo menos combatê-lo, e isso passa, sem dúvida, pela educação, nas escolas e no ensino básico. Por isso eu acredito que tem tudo para dar certo.

.:: Fonte: SDI - Assessoria de Comunicação

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